domingo, 12 de fevereiro de 2012

Dos dias de 2005


A coisa que mais me deixou feliz de ter "ganhado" foi uma sacola velha de pano cheia de cadernos e folhas soltas. Eram coisas que eu consegui salvar da 2ª casa em que morei sozinho... deixei com um amigo e a pouco tempo atrás ele me devolveu.
Esta "crônica" faz parte de um diário que eu mantinha na época... como de costume, eu escrevia uma música com o que acontecia no dia, para ir treinando mesmo, e às vezes ficava legal (como "Primavera" que escrevi pra um caso que o Ratão tinha com a Thaís... saudade da Thaís), outras ficava um lixo. Esta é uma das que eu mais gosto...

XXX



Bob, 18 de julho de 2005 - 2h45... grande merda.

Hoje me levantei, disse olá pro mundo e tudo se desfez. Caminhei por algo que deveria ser meu jardim, pensando numa forma de transformar aquelas várias latas de cerveja enferrujadas em um belo canteiro de flores... mas o ambiente não está conversando comigo hoje... não sei se é por este tempo maldito... frio e chuva ao mesmo tempo. Assim que abri a porta da frente notei que as manchas que a água da chuva faz nas minhas paredes se parecem com rostos bizarros, mas acho que é só na minha cabeça... preciso pintar esta casa. Um dia.
Não sei o que tenho... de uns dias pra cá tudo tem me incomodado... tenho passado a maior parte do meu tempo livre escrevendo músicas que eu sei que a banda nunca vai querer fazer e bilhetes de coisas pra eu  não me esquecer de fazer. A única coisa que tem me aliviado são os cigarros... a gaveta está cheia deles, de todos os tipos, tamanhos e sabores, mas é tão fácil que não tenho tesão nem pra isso. Liguei pra Carla agora pouco pra saber da gravidez, ela me disse que está tudo bem e que me avisará se tiver algum problema "não que você queira ajudar". Ela ainda está chateada comigo, com toda razão é claro, eu sou péssimo com estas coisas de fim e dizer pra uma grávida que "transei, gostei, amei, enjoei, não quero mais" não é nada bonito, mas não posso ficar preso à alguém por causa de uma criança... e na hora certa o meu pequeno Duka vai entender... Droga! Eu não preciso transar com todo mundo que eu trato bem... não sou cachorro pra entrar no cio... as meninas são muito carentes... todas umas idiotas que só pensam em sexo 24 horas por dia... não tenho saco pra isso... eu sou mais que um pinto... eu devo ser gay...
A matemática PROVA que o errado está certo e que o importante não é se chegará, e sim como saiu. Tudo mostra que não importa as escolhas e sim a intenção... não existe céu e inferno é tudo aqui e agora... Minha casa está tão cheia que nem consigo pensar direito, e minha cama tão vazia...  justo ela não deveria estar... como pode isso? Não sentir nada por ninguém? Isso não deve ser normal... Tenho medo de amar... acho que é por isso que sempre que alguém se aproxima demais eu dou um jeito de foder tudo... eu gosto de ficar sozinho... eu, o Animal e a Anaki... a mulher certa ainda não chegou... nenhuma mão me convenceu ainda... eu tenho um negócio com mão... 
Estas passagens à minha volta, estes móveis ao mesmo tempo velhos e desconhecidos pra mim... são recordações de um tempo que eu preferia não conhecer, mas agora que o passei é o que me resta.
Eu abro a janela, acendo um careta e espero a chuva me consumir... fico ali pensando que meus pecados se vão pra bem longe com ela. Invento uma decisão e me convenço com ela, abaixo e resgato meu moral, mas já é tarde demais... uma bala perdida, mas desejada, seria suicídio?
A verdade é que a sociedade inteira se humilha, com aqueles olhares revoltados... todos enfurecidos pelas escolhas que fizeram... depois ficam feitos zumbis nas esquinas implorando perdão de deus com oferendas... como se algum deus se importasse com a vida dos medíocres. Foda-se. Vou buscar uma Vila Velha no Chico Doido e passar no Fabão... ele deve estar acordado ainda.

XXX

Eu tentei me lembrar do dia, mas não consegui... mas foi na época em que me separei da mãe do meu filho.

NOTA: "Animal" era o nome de um vira-latas que eu tinha... e "Anaki" era uma guitarra feita a mão que pesava uma tonelada, não pegava afinação, mas era meu xodó na época.



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